sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Obras Completas de Alberto Caeiro

“O único poeta da natureza”.

A obra “Poemas Completos de Alberto Caeiro” tem três partes: O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos. O surgimento de Alberto, segundo carta de Fernando Pessoa enviada ao crítico literário Monteiro Lobato, o “mestre dos heterônimos” foi protagonizado em 08/03/1914, quando o poeta acercou-se de uma cômoda alta, tomou um papel e começou a escrever, em pé, como fazia sempre. Redigiu 30 e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase, cuja natureza não conseguiu definir. Foi o maior triunfo de sua vida. Abriu com um título “O guardador de Rebanhos”. E, o que se seguiu foi o aparecimento de alguém dentro dele, a quem deu o nome de Alberto Caeiro, nome que surgiu por pura e inesperada inspiração. Logo após, pegou outro papel e escreveu outros seis poemas que constituem a “Chuva Oblíqua”. Ao surgir Caeiro, tratou rapidamente de lhe descobrir alguns discípulos. Arrancou do seu falso paganismo, Ricardo Reis. E, de repente, em derivação oposta a esse, surgiu um novo sujeito. Num ato, e à máquina de escrever, surgiu a “Ode Triunfal de Álvaro de Campos”. Como todos seus heterônimos, Alberto Caeiro tinha vida própria. Nasceu em Lisboa em 1889, mas viveu toda sua vida no campo. Não teve profissão nem educação, só a primaria. Tinha estatura média e frágil, cabelos loiros e olhos azuis. Fora órfão de pai e mãe e deixou-se ficar em casa, vivendo de pequenos rendimentos. Viveu com uma tia avó velha. Morreu tuberculoso em 1915. Considerado mais poeta do que pensador, sua obra representa a antítese da poesia metafísica e religiosa. Seu sensualismo o leva a escrever poemas inovadores, os quais o tornam o “mestre” de Álvaro de Campos e Ricardo Reis, os quais aprenderam com ele a filosofia de não filosofar, a aprendizagem do desaprender. Procura viver a exterioridade das sensações e recusa a metafísica, “Há suficiente metafísica em não pensar em nada”, caracterizando pelo seu panteísmo, ou seja, sistema no qual Deus é o conjunto de tudo quanto existe, a universalidade dos seres: “Pensar em Deus é desobedecer a Deus”. Com esse pressuposto, regressa a um primitivismo do conhecimento da natureza. Diante da possibilidade de se infilicitar com o sol, os prados e as flores que o contentam com sua grandeza, procura minimiza-los, comparando com eles próprios. Nessa redução do mundo fica mais latente “o nada”. Faz uma poesia da natureza, dos sentidos, das sensações puras e simples, por isso não se preocupou com o trabalho formal do poema. Compôs uma poética da contemplação, hiperbólica, de linguagem espontânea, discursiva e prosaica, ao extirpar do texto a conotação tradicional. Adota uma linguagem simples, direta, com a naturalidade de um discurso oral. Os versos simples e diretos, próximos do livre andamento da prosa, privilegiam o nominalismo, a "sensação das coisas tais como são". É o menos "culto" dos heterônimos, o que menos conhece a Gramática e a Literatura. Mas, sob a aparência exterior de uma justaposição arbitrária e negligente de versos livres, há uma organização rítmica cuidada e coerente. Por causa disso, é contraditório, atinge o poético pelo apoético, ou seja, conota quando denota, pois usa o inusitado. Enquanto tenta provar que não intelectualiza nada, é aquele que mais intelectualiza entre os heterônimos. Parece usar o raciocínio sem querer demonstrar isso. Faz uma poesia da natureza, dos sentidos, das sensações puras e simples, por isso não se preocupou com o trabalho formal do poema: "A sensação é tudo (...) e o pensamento é uma doença". Embora condene o pensamento, leva o leitor à meditação a partir do momento em que prega a realidade pelas sensações. Diz-se o menos intelectual, no entanto a simplicidade desconcertante com que poetiza o cotidiano torna-o profundo e complexo, uma vez que seus textos encerram a filosofia que ele faz questão de negar.

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